segunda-feira, 10 de abril de 2017

CONTO DO TIRIRI MENINO

Fui lá embaixo, caminhei nas trevas, vi muita gente se contorcendo, muita gente sofrendo. Eu que nasci em uma família pobre tive que aprender o significado de combate logo cedo. Desde criança vendo vultos, sentindo presenças, vendo homens de capa, cartola, negros com cachimbo, luzes repentinas, movimentação inexplicável, ouvia ruídos e vozes estranhas, não tinha dimensão do que me esperava.
Certo dia quando levava pra casa algumas frutas que tinha pegado escondido no terreno do vizinho, deparei-me com um ser de cerca de dois metros de altura, fiquei atônito, imóvel, com dor de barriga só de medo. Fechei os olhos e abri em alguns instantes depois, porém, aquele ser não estava mais lá. Aos poucos não dava mais tanto valor pra tais aparições, tinha que sobreviver.
Naquela altura da vida já com dezenove anos, estava preocupado com minha mãe e pai doentes, precisava fazer algo produtivo. Contudo, na região havia ocorrido um sumiço de uma criança, pouco dias depois encontraram o corpo da mesma já em decomposição, muito trágico e triste, os pais da criança choravam desesperados, o pai dizia "se conseguisse pegar quem causou essa desgraça eu pagaria alto preço para por fim nessa pessoa", foi então que despertei o interesse pelo dinheiro, logo me prontifiquei para o serviço, eliminei o primeiro, a notícia se espalhava no bochicho, logo fiquei envolvido nas vinganças contra assassinatos e sumiços de menores, a época não existiam muitos recursos, as autoridades do governo, ao contrário do que se imagina, vinham atrás de mim, para encontrar esses monstros. Eliminei vários, em lugares distantes e em lugares próximos.
Quando havia executado a vigésima terceira pessoa, voltei a viver as experiências sobrenaturais que havia vivido ainda criança, porém, com mais intensidade. Pensei em parar com esse ofício de executor, o que me fazia dormir sossegado era o fato que eu acreditava que estava devolvendo uma maldade a essa pessoa tão horrível, portanto, não sofria com aquele serviço, que no final me rendia um bom dinheiro.
Foi quando já na trigésima terceira pessoa a ser executada que me deparei com trabalho magisticos pela qual era utilizada crianças em seus rituais. Fiquei frente a frente com uma entidade maligna que cobria as costas do malfeitor, olhei para trás e me deparei com aquela entidade de cerca de dois metros, que eu via quando criança, e por incrível que pareça, não mais sentia medo desta entidade que me acompanhava. Ouvi da boca da minha vítima de número 33 que eu não mais continuaria com aquelas execuções, porque quem controlava as mortes das crianças era o grande dragão maligno, que naquela noite havia chegado o dia para o acerto de contas por tudo que eu havia feito para impedir os andamentos dos propósitos ocultos.
Eu utilizava, facas, armas de fogo e às vezes minhas próprias mãos para realizar tais execuções, e nesse dia havia levado apenas um punhal de cerca de vinte centímetros, porém, fui golpeado na cabeça antes, vindo a falecer sem cumprir tal execução.
Logo a notícia se espalhava, muitos choravam, já outros se sentiam aliviados com minha morte, o certo é que meu espírito foi acorrentado e surrado, sentia as mesmas dores carnais, mas novamente voltei a ver as entidades, agora com mais clareza, aquele ser com cerca de dois metros, na verdade era mais alto um pouco, para meu espanto, a propósito, atrás dele existiam incontáveis almas que pareciam que lhe fazia a guarda, ou algo nesse sentido. Usava capa e capuz, me disse " levante menino, levante menino... se quiser me acompanhar venha, acompanhei sua encarnação e via tudo que fazia, pensei em te levar algumas vezes, mas quando vi você afrontar sem medo aquele ser maligno em sua última vítima, resolvi lhe oportunizar uma chance pra fazer algo de útil após desencarnado, trabalhar no retorno comigo."
Espantado, contudo, compreendendo tudo, aceitei o encargo. Me disse, "você vai adentrar na falange 33, treinar e aprender, para que posteriormente possa a liderar, sua primeira missão é fazer a devolução de algumas energias ao último que tentaste executar". Cruzou meu espírito e me disse "Vai para a formação Exu Tiriri Menino".


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